Ah, sim, de tudo eu vi naquele mundo,
Amargurar o olhar de um terminal
E num juízo só, em água e sal,
Deixar partir solene um moribundo.
Invadir da epiderme ao peritônio,
Afastando o tecido mais normal.
E assim, com palma aberta achar o mal
E extraí-lo do enfermo como um sonho.
Ah, mas houve um profundo corte em mim,
E pra não ver mais morte nem meu fim,
Despeço em pranto da maior ciência,
E então, sangrando a crença em ser divino,
Agonizando em turva consciência,
Nasce em mim um poeta e algum destino...
Smiley Castelo Branco
O poema foi extraído do livro " O bisturi e os sonetos"
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