quinta-feira, 24 de março de 2011

Satira do Blog da Maria Betânia

Simão Bacamarte mostra no video com engenho e arte, o carissimo Blog da Betânia, que custou a bagatela de R$1.300.000,00, captados pela Lei de renuncia fiscal do governo federal. Como diria Bussunda Fala Sério!!!!!


segunda-feira, 21 de março de 2011

" Meu Tio Rei matou outro cara "


20/03/2011
 às 6:51

Cineasta petista e antipaulista tenta se explicar, mas chafurda de novo na impostura

A Lei Rouanet não cessa de expor pessoas ao ridículo. Jorge Furtado, o diretor de cinema  que se dá muito bem com empresas públicas, resolveu se explicar num novo texto. Desmoralizei o seu primeiro artigo em defesa do capilé oficial para Maria Bethania, aquele em que ele acusa a direita branca de São Paulo. Demonstrei que este petista, mas arenista de pai e mãe, teve seus dois primeiros empregos em órgãos públicos do Rio Grande do Sul ao tempo em que um governador, da Arena, era biônico, e o outro, já eleito, era do PDS, o então partido de Sarney. É um cara que sabe na pele e no estômago o que é direita branca! Furtado lida bem com a Fortuna. Os país, arenistas, eram íntimos do poder. O filho, petista, é íntimo do poder. Os bobos ficam na oposição; a família Furtado, no governo.
Pois bem, ele teve a ousadia de tentar responder, mas esgueirando-se na covardia: “Não foi bem isso o que eu disse”. Deve estar preocupado com um eventual boicote do público paulista à sua próxima obra seminal. Artistas brasileiros adoram fazer obras seminais com dinheiro público. De minha parte, jamais me furtarei a lembrar, a cada filme seu ou especial na TV Globo, o que ele pensa da detestável gente de São Paulo, com seus ombros sempre largos para arcar com os impostos que paga e as culpas que não tem. Aguardo o dia em que gente como Furtado tentará nos expulsar, os paulistas, da federação! Pobre São Paulo! O que será de ti sem o Brasil, não é?!?!?!
Depois de algum teretetê tentando amenizar a boçalidade inicial, ele escreve este incrível parágrafo:
Muitos reclamam de minha comparação do custo do projeto com os valores que a corrupção suga no erário público, como se eu tivesse afirmado que “já que todos roubam”, este dinheiro não faz nenhuma diferença. Um erro não justifica o outro, é claro. Minha comparação com os valores da corrupção serve apenas de parâmetro monetário: se é possível surrupiar 380 milhões das verbas de informática do Distrito Federal, sinal que existe dinheiro disponível para atividades mais nobres. Cultura, por exemplo. Outros reclamam que só citei casos de corrupção em governos demo-tucanos, esquecendo de citar maracutaias de governos petistas (o suposto “mensalão” e os supostos desvios do “caso Erenice” foram os mais citados, fica aqui o registro).
Imaginem se todas as áreas da administração pública decidirem enfiar o pé na jaca porque existe corrupção no país… É um raciocínio pedestre! A Lei Rouanet é renúncia fiscal — logo, lida com dinheiro público, que deixa de entrar no caixa. Não é um saco sem fundo. Se Bethania conseguisse R$ 10 mil para declamar “Hoje é domingo, pede cachimbo”, com aquela sua entonação particular que premia indistintamente Fernando Pessoa ou Zezé Di Camargo, com a dramaticidade de um carcará do bico volteado prestes a alçar vôo,  seria dinheiro demais para o produto a ser entregue ao público. Qual é? Bethania pediu R$ 600 mil para dirigir… Bethania! Quer R$ 50 mil por mês para dizer a si mesma como deve se comportar na leitura de poemas. Não é só perda de parâmetro. Também perdeu o senso de ridículo.
A vigarice intelectual do texto de Jorge Furtado atinge o estado da arte quando ele se refere ao “suposto mensalão” e aos “supostos desvios do caso Erenice”. As provas de um caso e de outro não lhe bastam. Ele não precisa de evidência nenhuma para atacar a direita branca de São Paulo, mas todas as evidências que existem contra os petistas ainda não o convenceram: são crimes “supostos”. Essa gente, com essa moralidade, está no poder e ainda acredita que pode sair por aí distribuindo pitos. Adiante.
(…) Confesso minha ignorância a respeito dos detalhes da lei Rouanet (nunca a utilizei para fazer meus filmes, embora muitas mensagens no twitter me acusem de ter “enriquecido” com ela) e não tenho opinião formada sobre suas necessidades de reformulação.De fato, a Lei Rouanet não financia cinema porque quem o faz é a Lei do Audiovisual: é outra, com características parecidas, mas voltada para o cinema.  Furtado sabe disso. Não é que ele esteja mentindo a seus leitores. Eles apenas está deixando de dizer a verdade. Segue ele na arte de desdizer:
Alguns paulistas se sentiram ofendidos, alegando que eu afirmei que todos os críticos ao blog vinham da direita paulista. Não é verdade, não foi o que eu escrevi, leia o texto. O que disse foi que “nas críticas sobram piadas contra os baianos, quase todas vindas do mesmo gueto branco direitista no enclave paulista”. Me referia claramente, portanto, a quase todas as críticas aos baianos, não a todas as críticas ao blog da Bethânia. Eu certamente exagerei ao atribuir aos eleitores de Serra a maioria das críticas ao projeto, muitas são de governistas.
Como se nota, o próprio Furtado deixa claro que a sua afirmação é ainda mais grave. Para ele, São Paulo é um “enclave”, onde existe um “gueto branco direitista”. Ora, o que fazer com “enclave” onde existe um “gueto”? Pergunte a um nazista. Ele tem a resposta! Tentando se corrigir, Furtado consegue ser ainda mais asqueroso.
Enrolando-se mais um pouco, avança o tolerante Jorge Furtado:
“O que eu não aceito, de maneira alguma, é o achincalhe da turba de palpiteiros sobre o trabalho ou o talento de uma artista como a Maria Bethânia ou de intelectuais como o Hermano Vianna. Os covardes que, no anonimato, repetem mensagens que nem leram sobre projetos que desconhecem são o que a internet trouxe de pior. O melhor a fazer é ignorá-los. Infelizmente, nem sempre é possível.”
O que Furtado não tolera é a liberdade de expressão daqueles que não pensam como ele. Na quarta-feira, participei de um seminário do Instituto Millenium sobre liberdade de expressão. Escrevi aqui um texto com as idéias que defendi lá. Afirmei:
“Da mesma forma que o teste de resistência da democracia é feito por aqueles que discordam de consensos - sejam estes legítimos ou não, embasados ou não em verdades científicas -, o teste de resistência dos democratas se dá quando confrontados com idéias que consideram absurdas, irrealistas, detestáveis até. Aceitar que o outro exponha a sua “verdade”, por mais estúpida que nos pareça, testa a nossa capacidade de conviver com a diferença. Isso não significa, e meu trabalho espelha essa minha postura, que não devamos, nós também, ser, então, “detestáveis” à nossa maneira aos olhos de quem discorda de nós. É preciso dizer com clareza e destemor o que se pensa, e não com o intuito de destruir o outro, de eliminar a contradição”, de “extirpar” o adversário, como poderia sugerir certo Luiz Inácio Lula da Silva.”
Não é o que pensa Furtado, é claro! Os que não estão com ele são as pessoas do “gueto branco direitista”, do “enclave”, como corpos estranhos que precisam ser eliminados, numa limpeza ideológica.
Da Arena ao PT, Furtado mudou de pêlo, mas não de vício. Continua a odiar a liberdade! Eu, como “branco direitista do enclave paulista”, direi a este senhor o quê? Quando ele estava abrigado no regaço arenista, eu pertencia a uma minoria que tentava derrubar o governo. Hoje ele está no regaço petista, e eu continuo crítico ao governo. Ele odiava a liberdade antes como agora. Eu a prezo agora como antes.
Não, não! Gente que teve o toddynho e as fraldas financiados pela ditadura não vai dar lições de moral democrática sem receber o devido troco. Taí um debate que farei com gosto!
Por Reinaldo Azevedo

    quinta-feira, 17 de março de 2011

    LEI DE INCENTIVO A CULTURA


     Blogs e Colunistas
    17/03/2011
     às 7:05

    Lei de incentivo à cultura e aristocracia do onanismo

    O “caso Maria Bethania” movimentou a rede ontem. Estive no seminário do Instituto Millenium — ainda voltarei ao assunto — e não tive tempo de escrever a respeito. Faço-o agora. Tomo o episódio como um sintoma. Todo mundo deve saber da história a esta altura, mas vai uma síntese: o Ministério da Cultura autorizou a cantora a captar, via Lei Rouanet, R$ 1,3 milhão para um blog em que aparecerá declamando poesias. A direção do projeto é de Andrucha Waddington. O tema, e nem poderia ser diferente, mobilizou ontem as redes sociais. A esmagadora maioria das pessoas que se manifestaram criticou a autorização. “Captação” quer dizer renúncia fiscal — a empresa vai abater do imposto que deve parte do que “investiu” em “cultura”. É DINHEIRO PÚBLICO, SIM!
    Waddington reagiu às críticas. Na Folha de hoje, ele afirma: “Se fosse documentário ou filme para ser visto por cinco mil pessoas no cinema, ninguém estaria reclamando. Parece que internet não é um meio válido. Lá [no blog], os vídeos vão ser vistos por milhões, e de graça. Preciso trabalhar com uma equipe, com o mesmo padrão de qualidade dos meus filmes.” Ninguém aqui duvida da competência do moço e de suas exigências técnicas. O ponto, definitivamente, não é esse. Antes que chegue a ele, noto que Waddington também parece não ver com bons olhos os “filmes para cinco mil pessoas” feitos com capilé oficial. Nisso, estamos juntos!
    Acho que o cineasta não está ligando a crítica à coisa. Vozes da sociedade brasileira têm reagido mal à facilidade com que nomes estelares das, vá lá, “artes” conseguem incentivos para seus projetos. A Lei Rouanet virou o “Bolsa Família” de nomes consagrados. Artistas que lotam casas de espetáculo dia após dia recorrem à lei para montar os seus shows. Faturam uma dinheirama — é justo; trabalharam por isso — sem que tenham, e nisto está o privilégio, investido um centavo na empreitada, toda ela saída da tal lei de incentivo.  É injusto. Nós trabalhamos para isso. Em outras palavras: o custo é socializado com todos os brasileiros, mas o lucro, evidentemente, é privado.
    Se o blog vai ter mesmo milhões de acessos, por que uma artista do porte de Bethania precisa recorrer ao dinheiro público para montar o seu projeto? Empresas certamente estariam interessadas em anunciar os seus produtos na página. Waddington erra também quando fala da gratuidade. Ao contrário: todos estarão pagando pelo blog, até mesmo aqueles que não são fãs de Bethania e que não acessarão a sua página. Essa é uma confusão, aliás, muito típica quando se fala em leis de incentivo: fica parecendo que o dinheiro não sai de lugar nenhum.
    É claro que estamos diante de um exemplo de falta de critério — ou de critério torto. Sou contrário a incentivo de qualquer natureza, deixo claro. Mas como sei que seria malhar em ferro frio, advogo que ele obedeça a algumas regras. Pergunto: incentivo a quê e a quem? O “quê” remete à obra que vai contar com um empurrãozinho do estado. Entendo que o trabalho deveria ter a marca de uma consistente inovação, o que, definitivamente, não é o caso de Bethania. A avaliação seria um tanto arbitrária? Sem dúvida! Não menos do que hoje — mas, ao menos, estaria comprometida com o novo. O “quem” remete ao artista agraciado. Que sentido faz “incentivar” medalhões que dispõem de recursos, muitos deles com óbvios sinais exteriores de riqueza, para montar seus projetos? Tenham paciência!
    Querem ver? Se o cantor Latino decidir criar um blog para o exercício de sua “arte”, há alguma chance de o Minc lhe dar autorização “para captar”? Não! A concessão do benefício obedece, no caso, a um critério de gosto e influência. “Está comparando Latino a Bethania?” Estou, sim! Nenhum deles precisa de dinheiro público para exercer o seu ofício. O fato de um transitar entre os bem-pensantes — e até pode ser por bons motivos —, e o outro não é que acaba fazendo a diferença. De resto, tentem me convencer de que a contribuição de Bethania à poesia, com o seu blog, será superior à de Latino à música…
    Trata-se de um patrocínio despropositado — e não é o único —, sintoma de um tempo. O seminário do Millenium de ontem debateu liberdade de expressão. Eu participei do painel sobre o politicamente correto. Em todas as conversas, pairava, monstruosa, a sombra do Estado, que, parece, é onde os brasileiros cedo ou tarde acabam se abrigando. Estamos fazendo uma nação de estado-dependentes. Não acho que isso possa dar em boa coisa, mas não quero dar relevo ao profeta que não sou. Não são só os artistas que estão nessa. Boa parte do empresariado está pendurado nas tetas do estado.
    O Brasil é mesmo um país sui generis. Nos EUA, por exemplo, o showbizz arrecada impostos; aqui, ele come impostos. “Ah, mas olhe o tamanho da economia lá etc”. Sim, olho! Eu diria que a nossa indústria do entretenimento é, proporcionalmente, menor do que a sua economia. Aqueles que deveriam ser os empreendedores preferem as facilidades oficiais. Este é um país de aristocratas — agora, dos aristocratas progressistas!
    Pausa.
    Estou no avião. Há uma revistinha chamada “Brasil - Almanaque de Cultura Popular”. Tem o apoio do Ministério da Cultura — lei de incentivo, vocês sabem, como Bethania… É feita para circular nos aviões da TAM. A primeira página dupla de anúncio é da CEF. A segunda pagina dupla de anúncio é da Petrobras. A terceira página dupla de anúncio é do Banco do Brasil. É uma publicação da “Andreato Comunicação e Cultura”. O diretor editorial é Elifas Andreato.  O diretor executivo é Bento Huzak Andreato. A editora de imagens é Laura Husak Andreato.
    É um manual mesmo, como os de antigamente, com pílulas de curiosidade sobre isso e aquilo… A gente não sente falta de nada porque qualquer coisa poderia estar ou não estar ali. Tento ler tudo o que me cai às mãos, até bula de remédio — como Gabriel Chalita lendo Sartre aos oito anos, “não entendo nada, mas adoro…”.
    Volto ao manual da Família Adreato patrocinado pela Família Brasil. Há uma notinha com este título: “Nem todos os adultos podem ver as revistas ‘para adultos”. O texto é este:
    “Claro que, se a Biblioteca Nacional recebe todos os periódicos publicados no Brasil, sua coleção de impressos eróticos e pornográficos é bastante extensa.Playboy, G Magazine, Sexy e títulos mais inusitados como Homem Macho, dos anos 1930, ou a fotonovela Carol Blue, dos anos 1980, estão todos armazenados. Comprovam costumes e tradições ao longo das épocas. Entretanto, não estão disponíveis para o público comum. Para consultá-las é preciso ser pesquisador e apresentar documento oficial da instituição acadêmica.”
    O almanaque não me foi de todo inútil. Taí algo que eu não sabia. Existe tambéma a aristocracia do onanismo.
    Quanto tempo vai demorar para que isso seja uma República?
    Por Reinaldo Azevedo

    mando poesias. A direção do projeto é de Andrucha Waddington. O tema, e nem poderia ser diferente, mobilizou ontem as redes sociais. A esmagadora maioria das pessoas que se manifestaram criticou a autorização. “Captação” quer dizer renúncia fiscal — a empresa vai abater do imposto que deve parte do que “investiu” em “cultura”. É DINHEIRO PÚBLICO, SIM!
    Waddington reagiu às críticas. Na Folha de hoje, ele afirma: “Se fosse documentário ou filme para ser visto por cinco mil pessoas no cinema, ninguém estaria reclamando. Parece que internet não é um meio válido. Lá [no blog], os vídeos vão ser vistos por milhões, e de graça. Preciso trabalhar com uma equipe, com o mesmo padrão de qualidade dos meus filmes.” Ninguém aqui duvida da competência do moço e de suas exigências técnicas. O ponto, definitivamente, não é esse. Antes que chegue a ele, noto que Waddington também parece 

    LEI DE INCENTIVO A CULTURA

     Blogs e Colunistas

    17/03/2011
     às 7:05

    Lei de incentivo à cultura e aristocracia do onanismo

     

    O “caso Maria Bethania” movimentou a rede ontem. Estive no seminário do Instituto Millenium — ainda voltarei ao assunto — e não tive tempo de escrever a respeito. Faço-o agora. Tomo o episódio como um sintoma. Todo mundo deve saber da história a esta altura, mas vai uma síntese: o Ministério da Cultura autorizou a cantora a captar, via Lei Rouanet, R$ 1,3 milhão para um blog em que aparecerá declamando poesias. A direção do projeto é de Andrucha Waddington. O tema, e nem poderia ser diferente, mobilizou ontem as redes sociais. A esmagadora maioria das pessoas que se manifestaram criticou a autorização. “Captação” quer dizer renúncia fiscal — a empresa vai abater do imposto que deve parte do que “investiu” em “cultura”. É DINHEIRO PÚBLICO, SIM!
    Waddington reagiu às críticas. Na Folha de hoje, ele afirma: “Se fosse documentário ou filme para ser visto por cinco mil pessoas no cinema, ninguém estaria reclamando. Parece que internet não é um meio válido. Lá [no blog], os vídeos vão ser vistos por milhões, e de graça. Preciso trabalhar com uma equipe, com o mesmo padrão de qualidade dos meus filmes.” Ninguém aqui duvida da competência do moço e de suas exigências técnicas. O ponto, definitivamente, não é esse. Antes que chegue a ele, noto que Waddington também parece não ver com bons olhos os “filmes para cinco mil pessoas” feitos com capilé oficial. Nisso, estamos juntos!
    Acho que o cineasta não está ligando a crítica à coisa. Vozes da sociedade brasileira têm reagido mal à facilidade com que nomes estelares das, vá lá, “artes” conseguem incentivos para seus projetos. A Lei Rouanet virou o “Bolsa Família” de nomes consagrados. Artistas que lotam casas de espetáculo dia após dia recorrem à lei para montar os seus shows. Faturam uma dinheirama — é justo; trabalharam por isso — sem que tenham, e nisto está o privilégio, investido um centavo na empreitada, toda ela saída da tal lei de incentivo.  É injusto. Nós trabalhamos para isso. Em outras palavras: o custo é socializado com todos os brasileiros, mas o lucro, evidentemente, é privado.
    Se o blog vai ter mesmo milhões de acessos, por que uma artista do porte de Bethania precisa recorrer ao dinheiro público para montar o seu projeto? Empresas certamente estariam interessadas em anunciar os seus produtos na página. Waddington erra também quando fala da gratuidade. Ao contrário: todos estarão pagando pelo blog, até mesmo aqueles que não são fãs de Bethania e que não acessarão a sua página. Essa é uma confusão, aliás, muito típica quando se fala em leis de incentivo: fica parecendo que o dinheiro não sai de lugar nenhum.
    É claro que estamos diante de um exemplo de falta de critério — ou de critério torto. Sou contrário a incentivo de qualquer natureza, deixo claro. Mas como sei que seria malhar em ferro frio, advogo que ele obedeça a algumas regras. Pergunto: incentivo a quê e a quem? O “quê” remete à obra que vai contar com um empurrãozinho do estado. Entendo que o trabalho deveria ter a marca de uma consistente inovação, o que, definitivamente, não é o caso de Bethania. A avaliação seria um tanto arbitrária? Sem dúvida! Não menos do que hoje — mas, ao menos, estaria comprometida com o novo. O “quem” remete ao artista agraciado. Que sentido faz “incentivar” medalhões que dispõem de recursos, muitos deles com óbvios sinais exteriores de riqueza, para montar seus projetos? Tenham paciência!
    Querem ver? Se o cantor Latino decidir criar um blog para o exercício de sua “arte”, há alguma chance de o Minc lhe dar autorização “para captar”? Não! A concessão do benefício obedece, no caso, a um critério de gosto e influência. “Está comparando Latino a Bethania?” Estou, sim! Nenhum deles precisa de dinheiro público para exercer o seu ofício. O fato de um transitar entre os bem-pensantes — e até pode ser por bons motivos —, e o outro não é que acaba fazendo a diferença. De resto, tentem me convencer de que a contribuição de Bethania à poesia, com o seu blog, será superior à de Latino à música…
    Trata-se de um patrocínio despropositado — e não é o único —, sintoma de um tempo. O seminário do Millenium de ontem debateu liberdade de expressão. Eu participei do painel sobre o politicamente correto. Em todas as conversas, pairava, monstruosa, a sombra do Estado, que, parece, é onde os brasileiros cedo ou tarde acabam se abrigando. Estamos fazendo uma nação de estado-dependentes. Não acho que isso possa dar em boa coisa, mas não quero dar relevo ao profeta que não sou. Não são só os artistas que estão nessa. Boa parte do empresariado está pendurado nas tetas do estado.
    O Brasil é mesmo um país sui generis. Nos EUA, por exemplo, o showbizz arrecada impostos; aqui, ele come impostos. “Ah, mas olhe o tamanho da economia lá etc”. Sim, olho! Eu diria que a nossa indústria do entretenimento é, proporcionalmente, menor do que a sua economia. Aqueles que deveriam ser os empreendedores preferem as facilidades oficiais. Este é um país de aristocratas — agora, dos aristocratas progressistas!
    Pausa.
    Estou no avião. Há uma revistinha chamada “Brasil - Almanaque de Cultura Popular”. Tem o apoio do Ministério da Cultura — lei de incentivo, vocês sabem, como Bethania… É feita para circular nos aviões da TAM. A primeira página dupla de anúncio é da CEF. A segunda pagina dupla de anúncio é da Petrobras. A terceira página dupla de anúncio é do Banco do Brasil. É uma publicação da “Andreato Comunicação e Cultura”. O diretor editorial é Elifas Andreato.  O diretor executivo é Bento Huzak Andreato. A editora de imagens é Laura Husak Andreato.
    É um manual mesmo, como os de antigamente, com pílulas de curiosidade sobre isso e aquilo… A gente não sente falta de nada porque qualquer coisa poderia estar ou não estar ali. Tento ler tudo o que me cai às mãos, até bula de remédio — como Gabriel Chalita lendo Sartre aos oito anos, “não entendo nada, mas adoro…”.
    Volto ao manual da Família Adreato patrocinado pela Família Brasil. Há uma notinha com este título: “Nem todos os adultos podem ver as revistas ‘para adultos”. O texto é este:

    “Claro que, se a Biblioteca Nacional recebe todos os periódicos publicados no Brasil, sua coleção de impressos eróticos e pornográficos é bastante extensa.Playboy, G Magazine, Sexy e títulos mais inusitados como Homem Macho, dos anos 1930, ou a fotonovela Carol Blue, dos anos 1980, estão todos armazenados. Comprovam costumes e tradições ao longo das épocas. Entretanto, não estão disponíveis para o público comum. Para consultá-las é preciso ser pesquisador e apresentar documento oficial da instituição acadêmica.”

    O almanaque não me foi de todo inútil. Taí algo que eu não sabia. Existe tambéma a aristocracia do onanismo.
    Quanto tempo vai demorar para que isso seja uma República?

    Por Reinaldo Azevedo