sexta-feira, 30 de abril de 2010

Papel no Varal

'Papel no Varal' chega às ruas com poemas e saraus



Intervenção urbana marca aniversário de projeto poético, com distribuição de 28 mil poemas em Maceió.

     Varal de sisal é composto com dez poemas, sendo 5 metros de varal e 2 de poesia. Foto: Divulgação



Teresa Ribeiro, do estadão.com.br

MACEIÓ/SÃO PAULO - O céu, o sal e o sol de Maceió, como sugere o verso cantado por Eliezer Setton, vão ganhar mais uma imagem: os varais de poesia que amanhecerão espalhados em pontos estratégicos da capital alagoana nesta quinta, 29. Serão mais de dois mil varais de sisal com dez poemas em cada um, feitos assim: cinco metros de varal com dois de poesia, deixando uma margem para que possa ser amarrado em árvores ou postes. Além disso, cerca de 28 mil poemas impressos serão distribuídos durante os saraus programados ou improvisados em livrarias, bares, escolas, centros culturais ou no meio da rua.

Trata-se da comemoração de um ano de existência do projeto Papel no Varal, criado para divulgar poesia de qualidade na cidade. "É nossa primeira intervenção urbana", diz Ricardo Cabús, um engenheiro civil professor do Centro de Tecnologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e pesquisador do CNPq, que criou o projeto em paralelo às suas atividades profissionais. Autor de dois livros de poesia, Estações Partidas e Cacos Inconexos (no prelo) e um infantil, A Galinha Saudosa.

Cabús conta que começou realizando pequenos saraus em livrarias e sebos, numa média de um por mês, até chegar a reunir mais de 500 pessoas num dos eventos pré-carnavalescas da cidade, denominado Papel no Varal Erótico, com a leitura de poemas no Museu Théo Brandão. "Como uma espécie de penitência, fizemos depois a versão infantil Papelzinho no Varal, na Páscoa", diz, reunindo crianças no Parque Municipal.

                Ricardo Cabús, idealizador do projeto; sarau no Museu Théo Brandão. Foto: Divulgação



O projeto inclui ainda o programa de rádio Minuto de Poesia que vai ao ar em toda hora cheia da programação da Rádio Educativa FM (107.7MHz), em Maceió.

Segundo Cabus, tanto na rádio como nos saraus ele costuma selecionar poemas na proporção de um terço de poetas nacionais, e a mesma quantidade de estrangeiros e alagoanos. No total já são 270 poetas cadastrados, Nesta quinta 100 poemas serão replicados, "com uma pequena vantagem para os alagoanos", diz Cabus. Entre eles, Luís de Camões, Charles Bukowski, Cecília Meireles, Ferreira Gullar e entre os alagoanos, Jorge de Lima, Lêdo Ivo, o próprio Cabús, Vera Romariz e Arriete Vilela, entre outros.

Os varais de poesia começam a ser instalados na cidade na noite desta quarta, 28, com a ajuda de grupos de ciclistas de Maceió e ou ainda de voluntários que podem requisitar um varal, ou mais, em uma das quatro farmácias da rede Ao Pharmacêutico, podendo levar de brinde um poema de Ferreira Gullar. Três saraus tem endereço certo: na sede da Prefeitura, às 8h30, no Restaurante Mandala (Centro), às 12h e no Bar do Chopp (Centro), às 17h. Quem quiser pode acompanhar a maratona poética pelo twitter: http://twitter.com/papelnovaral

Leia a poesia brinde de Ferreira Gullar:
Ferreira Gullar (Maranhense - 1930)

Traduzir-se

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
-que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

Comento
Vi hoje a reportagem no Jornal Bom dia Brasil, sobre o projeto que tem como idealizador o Professor Ricardo Cabús. A idéia do projeto é excelente ,porque divulgar tanto poesia ou prosa em nosso país é uma tarefa  sempre elogiosa, onde a literatura tem um papel primordial na cultura em geral e sendo muito utilizada entre as  artes irmãs. Que o projeto Papel no Varal possa a ser um multiplicador de projetos conexos ,onde a alvura do papel se contrasta com a negritude das palavras e metáforas banhadas por um sol que da luz a poemas, para serem vistos e revistos por uma população sedenta de poesia.